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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Bem-vindos à Holanda


Li este texto no blog Tecendo a Vida, da Deisy Aguiar, uma mãe especial, e achei muito bonito e pertinente. Quero compartilha-lo com voces...



Bem-vindos à Holanda[1]



Esperar um filho é como planejar uma fabulosa viagem de férias a Itália. Você compra um completo guia de viagem e faz planos maravilhosos. O Coliseu. O David de Michelangelo. As gôndolas em Veneza. Você pode também aprender algumas frases em italiano. É tudo muito excitante.

Depois de meses de intensa preparação, finalmente chega o dia. Você faz as maletas e parte. Muitas horas depois o avião aterrissa. A aeromoca vem e diz: “Bem vindos à Holanda”.

“HOLANDA?!?” Você diz. ”O que você quer dizer com Holanda?? Eu fiz uma reserva para ir a Italia! Eu supus que estaria na Italia. Toda minha vida eu sonhei com ir a Itália.”

Mas ouve uma mudança no plano de voo. Eles aterrissaram na Holanda e é aí que você tem que ficar.

O importante é que não lhe levaram a um lugar horrível, nojento, imundo, pestilento com gente faminta e doente. Trata-se simplesmente de um lugar diferente.

Assim, você tem que sair e comprar novos guias de viagem. Você deve encontrar todo um novo grupo de pessoas que você nunca conheceu antes.

É somente um lugar diferente, com um ritmo menos lento que Itália, menos deslumbrante que Itália. Mas passado algum um tempo e depois de recuperar a respiração, você começa a olhar ao seu redor e se da conta de que Holanda tem moinhos de vento… Holanda tem tulipas. Holanda tem também Rembrandts.

Mas todos os seus conhecidos estão ocupados indo e voltando da Itália, ostentando os dias maravilhosos que passaram lá e para o resto da sua vida você dirá “Sim para lá era onde eu supus que iria. Isso e o que eu havia planejado.”.

E a dor disso nunca vai embora… porque é a perda de um sonho, é uma significante perda.

Mas… se você desperdiça sua vida lamentando o fato de nao ter chegado à Itália, você poderá nunca ser livre para curtir muitas coisas especiais e adoráveis… sobre a Holanda.


O texto é muito bonito e por tratar-se de perdas e ganhos nos sentimos bastante identificados com ele. Lembro-me que o reli muitas vezes e que algo me deixava inquieta, muitas eram as perguntas que se formavam em minha cabeça e em meu coração. Será que realmente estávamos tristes com o fato de não ir à Itália? Na verdade nem sabíamos se realmente havíamos sonhado toda nossa vida com isso. Será que nossa surpresa ao chegar à Holanda foi assim tão assustadora?

Nessa hora lembrei-me do momento em que a pediatra nos deu a notícia de que Adam tinha características de Síndrome de down, nossa reação foi tão normal que ela pensou que pelo fato de eu ser brasileira e Bibi alemão não havíamos entendido o que ela nos dizia.

Ainda hoje não sei que reação ela esperava, ou estava acostumada a receber dos pais ao dizer “bem vindos a Holanda”. Para nós uma única troca de olhares foi suficiente para entendermos que sim, estávamos assustados com o novo lugar que iríamos conhecer, mas em nenhum momento deixamos de curtir a possibilidade de estar em um lugar diferente e, sem sombra de dúvida, não menos interessante do lugar com o qual havíamos imaginado. Hoje, passados oito meses, pensamos que esta talvez não foi a viagem com a qual sonhamos, mas sem sombra de dúvida é a melhor viagem de nossas vidas.



[1] O texto original pode ser visto no site http://www.our-kids.org/archives/Holland.html.
Babies with Down Syndrome - a new parent’s guide” editado por Susan J. Skallerup. Texto escrito pela escritora e roteirista americana Emily Pearl Kingsley que também tem um filho com síndrome de Down.

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